Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética. Che Guevara

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Olho pela janela de meu quarto, vejo as filas de carros paradas e pessoas andando apressadas concentradas em seu próprio ego, cada uma em sua própria solidão planejada. Dentro deste escudo construído, a população em volta não saberá nada sobre quem se esconde por de trás de uma camada invisível, que pode ser um assassino ou pode ter salvado a vida de alguém naquela manhã utilizando a manobra de heinrich, e ter mudado seu modo de ver o mundo.

Tantas vidas em tão pouco espaço.

Tantos pensamentos descumpridos.

Tantos sonhos corrompidos.

Saio de minha casa e resolvo ir para um café. Sento-me e fico a observar as pessoas. Um idoso observando um jovem homem com certa inveja. Ah, o ser humano e sua nostalgia. O senhor pode ter sido como aquele jovem: Alto, forte, moreno e arrasador de corações. Mas hoje é apenas um senhor rabugento, corcunda, com sobras de cabelo branco que ninguém quer cuidar e é obrigado a viver sozinho numa casinha qualquer.

Um barulho me chama a atenção.

Uma garota segurando uma pasta de curso pré-vestibular derruba vários livros. Levanto-me para ajudá-la, e assim que olho em seu rosto vejo as olheiras de noites seguidas estudando combinada com uma pele mal cuidada e óculos remendados com duréx. Após agradecer minha ajuda, senta-se em uma mesa, pede o maior copo de café da casa e logo abre uma apostila qualquer. Em um momento de distração, observa pela vidraça um grupo de adolescentes: tanto garotos quanto garotas. Todos rindo, se divertindo. Os olhos castanhos da garotas marejaram por de trás dos óculos puídos. Sentia saudade. Saudade da época que saia com seus amigos para ir ao cinema e sentar no chafariz da praça para comer pipoca. Porém, com rapidez volta a si. Tem que passar no vestibular, oras! Não pode gastar seu tempo com nada. Nem com amigos, nem com música, muito menos com saudade dos amigos que nem se lembram que ela existe.

Tomo um gole do meu café e mudo um pouco a minha visão.

Foco em uma menininha de no máximo uns 10 anos. Era baixinha e loirinha. Andava toda emburrada, com a mãe do lado, segurando varias sacolas de lojas infantis. Noto que a roupa da garotinha não combinava com o que ela tentava passar para os outros. Ela vestia uma saia rosa bebe e uma blusinha branca, mas era visível – olhando para os joelhos ralados e canelas roxas – que ela preferia estar com uma calça de abrigo e uma camiseta velha do irmão mais velho. A mãe apertava seu pulso, repreendendo-a. Quase a ouço sussurrar para filha: Anda como uma menina! Quando chegarmos em casa vou te ensinar a andar que nem as modelos, para o teu concurso. E ouço a garota responder em sua mente: Eu não quero concurso algum de modelo. Eu quero é jogar bola com meu irmão! Mas ela apenas dá um sorriso triste para o chão, e tenta andar como uma menina, para que a mãe sinta orgulho dela.

Termino meu café e resolvo voltar para casa.

Passo pelo meio das mesmas pessoas as quais vi mais cedo, de minha janela. Passo tentando tornar-me invisível entre elas, pessoas irrelevantes para mim.

Cada pessoa teve sua conquista hoje, seja profissional, seja pessoal.

Cada pessoa teve uma desavença hoje, seja no trabalho, seja em casa.

Cada pessoa teve sua perda de hoje, seja relevante, seja irrelevante.

Tive uma conquista hoje. A mais valiosa possível. Conhecimento. Conhecimento que qualquer um pode ganhar. O conhecimento dos sentimentos de um ser humano. Um conhecimento de estudo infinito, visto que os sentimentos humanos que presenciamos não passam de uma pequena poeira no vento da vida da humanidade.

6 comentários:

  1. muito bom!!! gostei muito de todos teus textos até hoje, mas acho esse o melhor... muito bom mesmo, não faz-se necessário explicar tudo, só apreciar... repetindo: muito bom!!!

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  2. tenho medo de ficar como a guria do pré-vestibular, na boa ajosioajs

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  3. Eu, por exemplo.. Não gosto de pessoas que fazem pré-vestibular.. Nem mesmo de menininhas que são reprimidas pelas mães... eiueieueiue
    Porém, o semblante de cada uma dessas reflte no que eu sou hoje.. E o mais bizarro(!): eu ainda sou uma pessoa(MUITO)feliz, será que outras também não podem ser?
    Beijo!
    Carool.

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  4. Gostei imensamente do teu texto,retrata com perfeição os meses que antecederam o meu vestibular... meu tempo era precioso...rsrsrs,Continue, vá em frente vc tem talento.

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  5. Carol, eu n disse que as pessoas que fazem pre-vestibular ou meninas que sao reprimidas pela mae são depressivas D: OIAJSOAIJ

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