Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética. Che Guevara

terça-feira, 24 de maio de 2011

No peito havia um coração
- ou pensava que ainda havia -
batia tão descompassado
e hoje parecia tão cansado.
Os olhos vidrados
encaravam o teto e
a boca seca implorava
pelo vinho que ali pousava.
E na cabeça?
Ali havia nada mais que
a mais pura insanidade.
Ao ouvir a revoada dos pássaros
sentiu o coração chorar;
parando aos poucos
enquanto sua loucura via a vida passar:
Aquela vida que quis ter,
que sonhou em ter.
Viu tudo ali morrer,
segurando o lençol branco
como se esperasse que com sua pouca força
não a levariam.
Tentava deixar a alma ali,
prometendo refazer a vida, lutar pelos sonhos.
Mas a morte disse que não há mas tempo.
Morreu ali, velha e moribunda.
Viveu uma vida automática,
sem esperança.
Se arrependeu e nunca pode voltar atrás.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sophia olhava para a sala vazia. Sem os móveis, estantes e posters o lugar parecia... Sem vida. As caixas se espalhavam a seu redor, quase todas já fechadas. As únicas que estavam abertas eram aquelas que abrigavam a base da vida dela: os álbuns de fotografia, os cadernos com textos e poemas e contos. Foram eles que seguraram ela durante esses quase seis anos. Sorria ao ler o que escrevia no auge de seus 15 anos. Sempre com um quê de Trevisan. Quando folheava os três livros inacabados, sorria por seu recém publicado. Afinal tinha conseguido tudo o que queria: O livro publicado, estava muito bem com Fernando e finalmente moraria em Porto Alegre. Mas ela não tinha noção do quão difícil era abandonar seu lar. Enxugou uma lágrima solitária que correu por seu rosto e terminou de embalar as coisas. Tinha que deixar o apartamento ainda hoje.

            Quando Fernando chegou, Sophia estava parada no meio da sala com uma mochila a seus pés. Ele ficou observando-a durante alguns minutos.
            - Tas calado hoje – ela estava rouca, como se não falasse a bastante tempo.
            - Só vim ver se tu tava bem.
            Ela se virou e sorriu pra ele, que abria os braços. Correndo, ela se atirou nele, quase o derrubando.
            - É muito... É difícil sair daqui. Um ano atrás eu planejava manter isso tudo. Me livrar disso é como arrancar um pedaço do meu coração. É... É estranho.
            - E compreensível. Qual é Sophia. Os melhores momentos da tua vida tu viveu aqui.
            - Eu sei...
            - E foi tua escolha vender o apartamento.
            Era verdade. Foi como o ultimo ato para se livrar do passado, da parte pesada que ainda ficava sobre ela. E ele sabia disso, mesmo sem perguntar. Mas mesmo assim era difícil. Notando as lágrimas nos olhos dela, Fernando tentou consolar-la.
            - Ei Soph... Pelo menos tu conhece quem comprou. Podes vir aqui matar a saudade. E eu te ajudo a fazer uma réplica exata lá em Porto Alegre.
            Ela riu. Levantou o rosto e ficou olhando para ele.
            - Eu não sei o que seria sem ti. Te amo tanto.
            Ele sorriu e a beijou, passando a mão pelos cabelos dela, do jeito que ela gostava.
            - Sophia – disse ele contra a boca dela – eu odeio interromper isso, mas eu tenho que fazer algumas fotos em quatro horas, então temos que ir.
            Ela respirou fundo e assentiu. Fernando pegou a mochila dela do chão e passou o braço por sobre os ombros dela. Do elevador, via sua sala. E ali, quase podia ver aquela Sophia loira desaparecendo aos poucos enquanto a porta de fechava, deixando ali a maioria dos monstros que a acompanharam durante todo esse tempo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Soneto(?) de uma aula qualquer...

O que era sentimento
Tornou-se mecânico
Morreu na rotina
O desejo humano

Outro dia no calendário
Outra noite, sorriso raro
Riscam-se agendas
Aperta-se o passo

Se por hora o tempo corre
Não culpes a vida
Não culpes a morte

Se por hora não tens descanso
Pra tudo há remédio
Em tudo há encanto.

Cássia Tavares.