Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética. Che Guevara

sábado, 21 de agosto de 2010

S&A

Estavam em um pequeno restaurante, ou em um café, não importa. Nenhum deles falava nada, mas não estava um silêncio desconfortável, muito pelo contrário. Ela observava ele, desde o cabelo castanho, quase preto, levemente desarrumado, os olhos verdes, a pele branca translúcida, os alargadores nas duas orelhas, a roupa escura e até a pequena tatuagem, que parecia um símbolo de alguma coisa que ela não reconhecia, no pulso dele que estava pousado levemente perto de uma xícara de café e um prato com um bagel meio comido. Ele parecia estar procurando o que falar, afinal ambos eram velhos conhecidos - enquanto ela era uma pirralha irritante ele era um adolescente, e sempre andavam juntos, ele protegendo ela, parecendo que sabia que um dia estariam nesta provavel lanchonete. Lembrou de algo, finalmente:
- Er... Como vai teus pais? E teu irmão?
- Ah... tá tudo bem.. E os teus?
- Tão bem...
Os olhares deles se encontraram, mas ela encontrou algo mais divertido para fazer, por exemplo observar a torta de maçã em seu prato, ao invés de olhar para um par de lindos olhos verdes.
- E tu? Por onde andas? - Perguntou ele.
- Ah.. Trabalho como fotógrafa para uma revista...
- Sério?
- É - disse ela rindo - Porque pareces impressionado?
- Sei lá, sempre pensei que serias médica ou uma executiva - disse ele rindo mais ainda.
- Então acho que progredi né.. - Disse e deu um sorriso estonteante para ele.
- Com certeza!
- Mas.. E você?
- Tô vagabundeando desde que me formei em administração.. Sei lá, acho que não é o que eu queria...
- E o que tu queres realmente fazer? - Disse ela, se aproximando dele por cima da mesa.
- Queria viver da minha música... Mas não sei se sou bom o bastante - Disse ele, olhando para o cabelo preto e ondulado dela caido por sobre um dos seus ombros.
- Eu pensava a mesma coisa em relação a fotografia. E tô bem hoje. Claro, eu não sou rica, e me preucupo sobre faltar dinheiro no fim do mês. Mas sou feliz com que faço.
- Eu admiro que pensa assim.
- Então comece a pensar assim.
Não haviam percebido, mas enquanto conversavam, foram se aproximando um do outro na mesa, até que seus narizes estavam a menos de meio palmo de distância.
- Tá afim de dar uma caminhada na praia?
- Claro...
Ela quis pagar o que comera, mas ele não deixou. Levaram o resto dos cafés e a torta de maçã. Enquanto caminhavam, conversavam sobre temas diferenciados, desde a legalização da maconha até sobre as pessoas conhecidas por ambos.
- Tá, e que fim deu aquele teu primo, que de vez em quando ia lá no prédio? - Ela perguntou
- Se mudou.. É casado e tem uma filha.
- Meu Deus! Que isso.. Tô envelhecendo. - Disse ela rindo
- Envelhecendo mas continua linda como era desde criança - Disse ele, tentando olhar nos olhos dela enquanto ela enrubrecia.
Ficaram calados até que resolveram sentar na beira da praia para ver o por-do-sol.
- Como eu amo tudo isso... - Disse ela, quase se deitando na areia, de olhos fechados.
Ele não respondeu. Estava em uma batalha interna sobre pular em cima dela e beija-la ou dizer que ainda pensava nela como aquela criança que certa vez ele ensinara a andar de bicicleta sem rodinha e caíra logo depois da segunda tentativa, machucando o joelho. Ele teve que acalma-la, limpar o ferimento e fazer um curativo.
- O que? - Disse ela sorrindo e arrancando ele dos devaneios de sua mente.
- Estava lembrando de quando você caiu da bicicleta - Disse ele, e então lembrou o por que desta lembrança te-lo marcado tão profundamente - Depois que fiz o curativo, você me beijou na bochecha e disse que me amava. E eu jurei nunca mais machuca-la.
- É. É a unica lembrança da qual eu tenho da minha infância.
- Fiquei puto demais comigo mesmo naquele dia.
-Por que?
- Por que havia machucado aquela coisinha que eu mais amava no mundo... E não consegui dizer que a amava também naquele momento.
Ela ficou meio que sem palavras.
- Posso perguntar uma coisa? - Disse ela.
- Claro.
- Na boa... Como tu me aguentava? Tu era um adolescente. Eu era uma pirralha.
- Na boa? - Disse, e sorriu - Não sei. - Ele ria enquanto ela fingia uma cara de brava - Sei lá... Tu acredita em destino?
- Tás me cantando?! - Disse ela brincando, com uma piscadela para ele. Ele apenas olhou para ela com um ar de tédio - Tá bom.. Acredito. Acho que antes mesmo de nascermos, um tipo de força maior traça um destino para cada um de nós.
- Pois é. Eu tinha uma ânsia de te ver, mesmo tu sendo uma criança... Sentia algo, parecia que alguém me mandava ir lá bater na sua porta para ver se estava tudo bem...
- E agora, o que tu sente em relação a mim?
Ele pensou um pouco. O que ele sentia por ela? Neste momento, apenas a mais pura vontade de proteger ela de tudo e todos. Ah, e claro, a imensa vontade de enterrar os lábios naquela pequena boquinha dela.
- Saudade, desejo de te proteger, vontade de passar aqui contigo até amanhecer, tesão, emoção, querer te fazer a mulher mais feliz do mundo inteiro.
Ela estava, mentalmente, boquiaberta. Mas antes que ela conseguisse falar algo, como "Eu te quero aqui e agora" ou um simples "Eu te amo", ele a beijou bem na hora que uma linda lua cheia aparecia no horizonte.
Ficaram se olhando, durante muito tempo. Nenhum sabia o que dizer. E nenhum deles disse nada até chegarem na porta da casa dela, onde eles se beijaram novamente, mas só que desta vez, este beijo só acabou na cama dela.


To be continued... oaijsajsajsojaoijsaoijs


Inspirado num sonho meu que tive sobre um veeeeeeeeeelho amigo que nem deve lembrar que eu existo. O sonho era só eu e ele sentados numa lancheria ou num restaurante ou num café, enfim, não importa.


E

sábado, 14 de agosto de 2010

Depois da meia noite
criamos aquela linha tênue
entre a magia e a realidade,
onde existiamos só nós dois.
Temos a cidade só para nós,
então por que não aproveitar?
Mas, apenas apagamos as luzes da cidade
e ficamos a ver as estrelas.

Mas, com a mesma rapidez de uma estrela cadente,
a linha se rompeu
e tudo se resumiu a realidade
de um quarto de paredes brancas
e uma xícara de café encima da mesa de madeira.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Quando o doce aroma da maconha não mais relaxa
ou o grato ardor do álcool não mais alegra,
apenas o aconchegante frio do revolver
contra o calor do peito macio
a fará descansar.


Macabro demais mwhahaha
e viva o inter \o/

E

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ela fora encontrada em seu quarto, enquanto tocava alguma música do Doors, recostada em uma parede, com sangue escorrendo de sua cabeça em direção a bela e delicada blusa de linho branco. O rosto, além de manchas de sangue, tinha manchas cinzas, de lágrimas misturadas com rímel. A família gritava desesperadamente e as amigas desmaiavam. Mas a garota morta sorria enquanto segurava um pequeno pingente de cristal em formato de coração e um pedaço de papel escrito.

Desculpe. É impossível viver sem minha alma, e ele a levou. Vou de encontro a ela, feliz. Amo a todos vocês.

Ainda era possível ver, ao lado do corpo, duas formas enevoadas de mãos dadas, aguardando em sigilo que o corpo possa descansar em paz para que ambos também possam.


e.

Olho pela janela de meu quarto, vejo as filas de carros paradas e pessoas andando apressadas concentradas em seu próprio ego, cada uma em sua própria solidão planejada. Dentro deste escudo construído, a população em volta não saberá nada sobre quem se esconde por de trás de uma camada invisível, que pode ser um assassino ou pode ter salvado a vida de alguém naquela manhã utilizando a manobra de heinrich, e ter mudado seu modo de ver o mundo.

Tantas vidas em tão pouco espaço.

Tantos pensamentos descumpridos.

Tantos sonhos corrompidos.

Saio de minha casa e resolvo ir para um café. Sento-me e fico a observar as pessoas. Um idoso observando um jovem homem com certa inveja. Ah, o ser humano e sua nostalgia. O senhor pode ter sido como aquele jovem: Alto, forte, moreno e arrasador de corações. Mas hoje é apenas um senhor rabugento, corcunda, com sobras de cabelo branco que ninguém quer cuidar e é obrigado a viver sozinho numa casinha qualquer.

Um barulho me chama a atenção.

Uma garota segurando uma pasta de curso pré-vestibular derruba vários livros. Levanto-me para ajudá-la, e assim que olho em seu rosto vejo as olheiras de noites seguidas estudando combinada com uma pele mal cuidada e óculos remendados com duréx. Após agradecer minha ajuda, senta-se em uma mesa, pede o maior copo de café da casa e logo abre uma apostila qualquer. Em um momento de distração, observa pela vidraça um grupo de adolescentes: tanto garotos quanto garotas. Todos rindo, se divertindo. Os olhos castanhos da garotas marejaram por de trás dos óculos puídos. Sentia saudade. Saudade da época que saia com seus amigos para ir ao cinema e sentar no chafariz da praça para comer pipoca. Porém, com rapidez volta a si. Tem que passar no vestibular, oras! Não pode gastar seu tempo com nada. Nem com amigos, nem com música, muito menos com saudade dos amigos que nem se lembram que ela existe.

Tomo um gole do meu café e mudo um pouco a minha visão.

Foco em uma menininha de no máximo uns 10 anos. Era baixinha e loirinha. Andava toda emburrada, com a mãe do lado, segurando varias sacolas de lojas infantis. Noto que a roupa da garotinha não combinava com o que ela tentava passar para os outros. Ela vestia uma saia rosa bebe e uma blusinha branca, mas era visível – olhando para os joelhos ralados e canelas roxas – que ela preferia estar com uma calça de abrigo e uma camiseta velha do irmão mais velho. A mãe apertava seu pulso, repreendendo-a. Quase a ouço sussurrar para filha: Anda como uma menina! Quando chegarmos em casa vou te ensinar a andar que nem as modelos, para o teu concurso. E ouço a garota responder em sua mente: Eu não quero concurso algum de modelo. Eu quero é jogar bola com meu irmão! Mas ela apenas dá um sorriso triste para o chão, e tenta andar como uma menina, para que a mãe sinta orgulho dela.

Termino meu café e resolvo voltar para casa.

Passo pelo meio das mesmas pessoas as quais vi mais cedo, de minha janela. Passo tentando tornar-me invisível entre elas, pessoas irrelevantes para mim.

Cada pessoa teve sua conquista hoje, seja profissional, seja pessoal.

Cada pessoa teve uma desavença hoje, seja no trabalho, seja em casa.

Cada pessoa teve sua perda de hoje, seja relevante, seja irrelevante.

Tive uma conquista hoje. A mais valiosa possível. Conhecimento. Conhecimento que qualquer um pode ganhar. O conhecimento dos sentimentos de um ser humano. Um conhecimento de estudo infinito, visto que os sentimentos humanos que presenciamos não passam de uma pequena poeira no vento da vida da humanidade.