Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética. Che Guevara

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

" um dia Brasil teria Claudio Milar..."



Uma fidelidade que nem a morte destói, este é o Xavante.

(ah! Bem Vindos ao inferno!)


Estive lendo A Noite Que Não Acabou (Eduardo Cecconi e Nauro Junior, Editora Livraria Mundial), e, assim como quase todos xavantes fanáticos, relembrei toda história de paixão que temos com este clube, com esta nação. Relembramos todos os momentos, todos os jogos, todas as peleias que travamos pelo interior do Rio Grande do Sul, ou até pelo Brasil inteiro pela série C do Brasileirão. Relembramos o centésimo gol de Cláudio Milar – maior ídolo do Brasil para os torcedores mais jovens e para a grande maioria dos que viram Júnior Brasília, Bira e dos que viram o gol de bicicleta de Gilson contra a Ponte Preta, na década de 80 -. Relembramos da festa que Régis liderou na vitória histórica de baixo d’água contra o Marcílio Dias em 2008. Relembramos dos projetos sociais de Giovani Guimarães. Damos-nos conta que todos eram identificados com o time. Perguntamo-nos por que logo conosco? Com a maior e mais fiel torcida do interior gaúcho? Por que com o time que tem torcida espalhada por todo Brasil? Por que logo com Giovani e Régis? Por que logo matar Cláudio Milar, aquele que encerraria sua carreira no centenário xavante, de preferência com o time de coração na série B do Brasileirão, e que queria virar presidente após isso tudo, que comemorava todos seus gols, perto da tela, de sua massa fanática, com a flechada do índio xavante, do guerreiro, que recusava inúmeras propostas de times de fora do país, que errara um pênalti em um jogo decisivo com o Caxias em 2006 prometendo então nunca mais bater um, e, em seu ultimo jogo, fizera o gol da vitória sobre o Santa Cruz, em amistoso, de pênalti?

Lembro-me de Milar desde que voltei a ir pros jogos do Brasil, – após uma traumática ida em 2003, contra o internacional de porto alegre, jogo em que faltou luz e eu como uma criança, tinha medo deste tipo de coisa, só voltei um ano depois – desde 2004, ano em que se consagrou com a camisa rubro negra, subindo para Primeira divisão do campeonato Gaúcho, como artilheiro com 33 gols – tendo ao todo 110 gols pela camisa rubro negra.

Sempre disse “Milar é meu maior ídolo”. Um dia estava eu no Mc Donald’s e lá estava ele, o único problema é que eu sou muito tímida falando cara-a-cara, então fomos em grupo, com minha amiga Áureo Cerúlea junto, graças a ela, tenho um guardanapo de papel do Mc Donald’s autografado por Cláudio Milar, guardado com todo carinho imaginável. Pode parecer bobagem, mas nunca esqueci daquele dia e toda vez que olho para aquele autógrafo, choro, choro como chorei no dia 15 de janeiro.

Foi minha avó que avisou a mim e aos meus pais sobre o acidente. Xavante fanática, desde criança, e ouvinte assídua da rádio Pelotense, ligou para minha casa, para saber de meu pai – diretor geral do Pronto Socorro de Pelotas – se ele não sabia de nada. Imediatamente montamos uma equipe de espera de noticias: Meu pai foi para o PSP e ficamos eu, minha mãe e meu irmão na sacada de meu apartamento, ao lado do hospital, ouvindo o rádio e esperando notícias pela internet. Vimos as ambulâncias chegando, vimos a massa xavante em volta delas vimos Cleber Gaúcho descer e ser amparado pelo Dr. André Guerreiro. Choramos ao saber quem havia morrido, choramos ali mesmo, sem se importar, assim como todo xavante que foi a rua ou ficou em suas casas. Vimos quando a esposa do zagueiro Régis foi avisada sobre o falecimento do marido, a vimos entrando em surto, gritando, chorando e depois desmaiando. Acompanhamos desde o inicio até o fim.

O time foi totalmente reformulado para a estréia atrasada, ironicamente, contra o mesmo Santa Cruz. Empate em 3x3, com gol e homenagem para seus amigos íntimos perdidos no acidente, jogando uma “flechada do Milar” para o céu, de Alex Martins, que após a morte dos integrantes do time, comemora homenageando-os. O time xavante não resistiu, foi rebaixado. Todos os jogos, o técnico xavante fazia todas as substituições, menos no último, na única vitória, contra o Novo Hamburgo.

Até o jogo com o Novo Hamburgo, o Brasil não havia ganho nenhuma. Ganhou esta na raça. Não tinham jogadores suficientes no banco de reservas para 3 substituições. Se não ganhássemos, cairíamos que nem o Pelotas, invictos, sem ganhar nenhuma, e nenhum xavante admitia isto, o grupo de jogadores era cobrado. Ao mesmo tempo, o Novo Hamburgo não admitia perder para um time rebaixado invicto. E perderam. Perderam para raça dos guerreiros Xavantes.

Dos lendários guerreiros Xavantes.

Assim é feito um time. O Grêmio Esportivo Brasil não chega aos pés de ter uma Arena super tecnológica como estádio. Tem o Bento Freitas. Não temos jogadores de seleção brasileira. Mas temos amor à camisa. Não temos a maior torcida do mundo, com milhões de sócios. Mas temos aquela torcida, que faz a Baixada virar O inferno para os visitantes, que apóia seu time nos piores momentos e nos lugares mais distantes imagináveis. E ainda por cima, temos três torcedores lá no céu, desde dia 15 de janeiro de 2009, A noite que não acabou.



Érica Barros.

2 comentários:

  1. Até hoje esta história me arrepia, não vou mentir, não tive peito de ler o livro, acho que nem a terei, mas me emociono com esse relato. Muito bom!

    ResponderExcluir
  2. Nossa gurias.. Até eu me arrepiei mesmo sendo farrapo... Se há algo que me deixa exuberante é o fato de ter contato com pessoas que fazem parte de uma torcida tão dedicada ao seu clube quanto são os rubro-negros de Pelotas...
    Cássia, Érica.. parabéns pelo blog que vocês criaram, espero que tenham sucesso nisso e tudo aquilo que se propuserem a fazer..
    Amo vocês!
    Beijoos

    ResponderExcluir